Ainda sobre o tema comunicação e as diversas formas de se relacionar e interagir com os pares e com o ambiente que nos rodeia, o texto de hoje apresenta uma história de vida que encanta pela leveza do autor ao relatar as barreiras que foram, e ainda são, superadas.
Gerre é um amigo muito especial, ele se destaca como profissional, estuda incansavelmente, gosta de ler e de apresentar a comunidade surda a todas as pessoas. Nossa comunicação sempre aconteceu de maneira bem tranquila, nós sempre conseguimos algum jeito para transmitir a mensagem e obter resposta.
O entendimento e empatia do Gerre é o que torna possível a interação com ouvintes que não possuem conhecimento e domínio em LIBRAS. Minha admiração por Gerre acontece também devido seu grande talento com desenhos em grafit. Muitas pessoas tem algum desenho que ele fez, ele é um grande comunicador, possui um canal no youtube onde apresenta conteúdos didáticos usando libras.
Mas vou deixar que ele mesmo fale mais sobre sua vida.
Meu nome é Gerre, nasci em Belmonte-BA.
Minha família trabalhava em carvoaria. Vendo eles trabalharem, aos meus 5 anos resolvi fazer o meu primeiro forno pequeno de carvoaria, mas deu errado. Peguei um pedaço de pau e quebrei o forno, mas não desisti, tornei a fazer outro, 3 vezes, estava quase desistindo quando minha mãe me ajudou a fazer outro melhor ai deu certo.
De manhã acordei 5h vendo que deu certo fiquei feliz, quando chefe chegou viu forno perguntou quem fez, meu pai falou foi Gerre, ele me chamou e me deu dinheiro. Fiquei com vergonha, minha mãe foi que pegou o dinheiro pra mim.
No outro dia fomos na rua comprar roupas, todos felizes, eu fiz muitas aventuras, essa é mais um pedaço da minha história.
Eu ainda não tinha ido a nenhuma escola. Quando nós viemos para Água Doce do Norte – ES, eu tinha 6 anos, fomos morar na roça, trabalhar com café, vi minhas irmãs indo para escola. Um dia quis ir para ver, eu ia de vez em quando, até tinha uns amigos que iam juntos. Eu gostava de alguns amigos, mas tinha uns que eu sempre brigava. Minha mãe até me deu uma surra por eu ficar brigando, mas na escola da roça não consegui aprender nada, o primeiro a caderno escrevi tema matemática adição mas não soube aprender nada, levei o caderno mostrar para professora ela disse errada, não entendeu e eu sentei e fiquei triste por que o caderno, pensei errado e vi os alunos que sabiam fazer. Foi aí que meu irmão Gercimar me ensinou em casa. Aprendi matemática com 9 anos, mas eu gostava mesmo era de desenho, desenhava até nas paredes da minha casa.
Antes, quando tinha 8 anos, meu irmão viu na mesa um caderno, com desenho feminino, quando a família trabalhava lavoura de cafeeira, mais tarde vi minha irmã desenhar em areia é normal, comecei a desenhar em areia, 9 anos juntos minha irmã desenhou a janela na casa.
Quando nos mudamos para a cidade tinha 10 anos, comecei a fazer desenhos em grafite, fazia minhas criações, eram originais da minha cabeça, não eram cópias.
Com o objetivo de ser desenhista desenhei o melhor, na minha casa sozinho, estudei muito, tive que ter disciplina. Sempre gostei de ler livros sobre os temas que ia aprendendo.
Com 13 anos meu objetivo era fazer desenhos de pessoas, desenhei todos os dias, 3 anos para me desenvolver melhor na profissão, com 16 anos melhor desenhei certo até hoje. Mas não parei, aprendo mais coisas sempre.
Na próxima publicação continuaremos falando sobre comunicação um dos pré requisitos para o desenvolvimento.
Gerre dos Santos Chaves, formado em pedagogia, pós graduado em Alfabetização e Letramento para surdos, professor da rede estadual do Espírito Santo.