A festa junina chegou ao Brasil no século XVI, trazida pelos colonizadores portugueses. Já era uma tradição religiosa muito popular na Península Ibérica (Portugal e Espanha) e foi trazida para cá pelos colonizadores como um costume religioso. Quando foi introduzida ao Brasil, a festa era conhecida como joanina, referindo-se a São João Batista, no entanto, ao longo da história da colônia, os brasileiros passaram a chamá-la de festa junina, em referência ao mês de junho.
No começo, a festa era apenas de caráter religioso, mas perdeu um pouco a sua identidade dando espaço para influências seculares e principalmente de símbolos do cotidiano da vida rural e a música caipira. Apesar de a cultura ser mais intensa no Nordeste do Brasil, principalmente em Campina Grande, no Estado da Paraíba, onde em 2017 a estimativa foi de ter recebido cerca de 2,5 milhões de pessoas, por todo o território nacional se acende uma fogueira para homenagear São João Batista. Ainda que nem sempre isso fique evidente, esta justa homenagem é para realçar a importância de João Batista para o anúncio do Messias (Jesus) no meio do povo.
Segundo a tradição católica, a fogueira tem a sua origem em um trato feito pelas “primas” Isabel (mãe de João Batista) e Maria (mãe de Jesus). Isabel teria mandado acender uma fogueira no topo de um monte, já que ela morava na região montanhosa, para avisar a Maria que seu filho havia nascido. É bom lembrar que quando João Batista nasceu, Maria estava grávida de Jesus e a palavra prima não existia no Aramaico, língua falada por aquela comunidade, no entanto, se sabe que Isabel era parenta de Maria, se não prima, poderia ser uma tia ou algo assim.
Durante os festejos, no Brasil, normalmente são realizadas danças típicas, como quadrinhas, produção de comidas à base de milho e amendoim, canjicão, pé-de-moleque, além de bebidas como o quentão. Outra característica peculiar é se vestir de caipira de maneira caricaturada para representar o antigo caipira.
Ainda que a pandemia tenha mudado os hábitos do brasileiro, muitas famílias se ajuntaram com os vizinhos e não deixaram de acender as suas fogueiras nesta véspera de São João mantendo a tradição. Este foi o caso da família Bergamini Huebra, residente na zona rural no entorno do Distrito de Governador Lacerda Aguiar, popularmente conhecido como Rio Preto – Água Doce do Norte – ES. Eles se reuniram, acenderam uma bela fogueira, chamaram os amigos e vizinhos mais próximos e viraram à noite até o momento de passar, com pés nus, na brasa ardente. A prática de passar em brasas ardentes ainda persiste em muitos lugares, inclusive na casa da Família Bergamini Huebra, apesar do risco de queimadura.
Segundo Maurício Bergamini, integrante da família que chegou recentemente da Europa, por onde trabalhou antes e durante a pandemia, ele espera que no próximo ano a festa possa ser completa, maior e sem pandemia. Este também é o desejo de todos nós: próximo ano, vida normal, cheia de alegria com a pandemia no passado.
Edilson Xavier é escritor, formado em Línguas e Letras pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).