No processo de comunicação é necessário o desejo de transmissão de alguma mensagem e conforme vamos nos aperfeiçoando e estabelecendo relação o processo fica mais simplificado.
A imagem acima apresenta uma forma de comunicação utilizada por algumas famílias de crianças autistas e com outras deficiências que podem gerar algum comprometimento na comunicação verbal.
A técnica utilizada é conhecida como PECs, é basicamente uma comunicação por troca de figuras que podem apresentar uma mensagem sozinhas e/ou combinadas com outras.
No texto anterior apresentei uma situação fictícia de uma família que possui um filho adolescente e que este não conseguiu ser atendido em um estabelecimento comercial devido sua sensibilidade e a desorganização sensorial causado por alterações no ambiente.
As pessoas se habituam com o ambiente que rotineiramente convivem. Para os autistas a rotina, a previsibilidade dos acontecimentos é muito importante. Minha filha nasceu em Água Doce do Norte e muitos não sabem, mas ela foi não verbal até os seis anos, ou seja, ela não falava nenhuma palavra, sua comunicação ainda hoje é bem objetiva, poderíamos dizer que ela é de poucas palavras.
Seu discurso é bem formal, ela evita dizer palavrões e censura qualquer palavra que considera ser ofensiva. Ela até pode dizer um palavrão, caso não saiba ainda o significado.
Estou apresentando essa situação para uma reflexão, Maria Paula agora está com 15 anos, muito dificilmente ela vai em algum comércio, ela circula em ambientes controlados como escola, Igreja, a Pestalozzi, no entanto com sua formação e nosso esforço que estamos fazendo em breve ela será autônoma.
Para que a autonomia da Maria Paula se dê de maneira assertiva e não cause transtornos é necessário muito treino e a apresentação dos ambientes, ou seja, é necessário ensiná-la a se comunicar, não a falar, a se comunicar.
Vamos então refletir um pouco, para que haja comunicação é preciso o emissor e o receptor da mensagem, e por mais que se faça treinos há sempre o imprevisto, coisas que podem acontecer e que podem gerar conflitos. A imprevisibilidade não é muito aceita para as pessoas com TEA.
Então não basta a intenção, o desejo de se comunicar, é necessário habilidades para se comunicar e essa habilidade deve vir de ambos os lados.
Com pessoas com deficiência a melhor maneira de se comunicar é ficar na mesma posição que eles, em um filme chamado “Como estrelas na terra” é possível perceber como a postura do ouvinte é importante para que o outro entenda que sua mensagem está sendo ouvida. E na hora de dizer algo é necessário calma e falas seguras e objetivas.
Nas diversas vezes em que Maria Paula teve alguma crise, em público, por falta de entendimento da minha parte sobre o que ela realmente queria, foi possível ouvir muitos comentários e olhares de julgamento, o fato é que as pessoas não aceitam, ou não querem entender o que é diferente, logo colocam rótulos e querem que todos façam tudo da maneira aceitável ou imposta.
Por mais que agora eu busque por informações, houve um tempo que o desespero da Maria Paula por não se comunicar, era o meu desespero.
Maria Paula não usou PECs por falta de conhecimento nosso quanto à técnica, mas usamos várias outras estratégias de comunicação não verbal, e ainda temos alguns recursos para conseguirmos saber o que ela está pensando sem ela ter que necessariamente verbalizar o pensamento.
O adolescente do texto anterior é Maria Paula, que pode a qualquer momento necessitar que mais pessoas estejam preparadas e com o desejo de desenvolver as habilidades de comunicação e interação. É um desafio, é sim uma desafio para todos nós, mas posso dizer com muita certeza e alegria que é prazeroso, gratificante e encantador ver como as pessoas conseguem se desenvolver alcançar seus objetivos.