Por: Edilson Cezar Xavier
Barra de São Francisco (ES) — Um jovem de 28 anos denuncia ter sido vítima de tortura e violência policial após uma abordagem realizada por agentes da Polícia Militar no Noroeste do Espírito Santo. O caso, ocorrido na noite de quarta-feira, 10 de dezembro, envolve acusações graves de agressão física, uso excessivo da força, privação de direitos básicos e violação de garantias legais.
Segundo relato de G. T. M., que solicitou para não ter o nome divulgado por medo de represálias, ele assistia a um jogo do Flamengo na pracinha de Água Doce do Norte quando foi abordado por uma viatura da Polícia Militar. Sem receber explicações claras sobre o motivo, foi conduzido de volta à própria residência.
Ao chegar em casa, percebeu que sua companheira — com quem convivia havia cerca de um ano — não estava no local. A mulher é mãe de dois filhos pequenos e, segundo ele, usuária de entorpecentes. Na manhã seguinte, G. T. M. afirma ter sido acordado aos gritos da companheira. Ao abrir a janela, deparou-se com uma arma apontada em sua direção.
— “Não corre”, teria ordenado um policial.
Ele afirma que avisou que abriria a porta e assim o fez. Durante a abordagem, a companheira teria se exaltado, pegado um facão e começado a destruir objetos na residência. Ela foi contida e levada em uma viatura. G. T. M. foi colocado em outra. Ambos foram encaminhados para Barra de São Francisco.
Relato de tortura
Já na unidade policial, G. T. M. afirma que não foi informado sobre o que sua companheira teria declarado aos agentes. Em determinado momento, segundo ele, quatro policiais encapuzados, usando toca ninja, entraram no local e perguntaram:
— “Quem é G. T. M.?”
Ele diz ter respondido com voz baixa e amedrontada:
— “Sou eu.”
Os agentes teriam ordenado que ele virasse de costas. Em seguida, segundo o relato, passou a receber golpes de cassetete nas costas. Depois, foi levado para uma sala separada, onde, ainda de acordo com sua versão, começou uma sessão de tortura.
Ele relata ter sido submetido a spray de pimenta, arma de choque (taser), além de chutes, socos e pontapés. Como consequência das agressões, teria perdido dois dentes e apresenta diversos hematomas pelo corpo, que foram registrados pela equipe de reportagem.
Ainda segundo G. T. M., ele ficou dois dias sem receber comida ou água, pedindo repetidas vezes para que os policiais entrassem em contato com sua mãe — pedido que, segundo ele, foi ignorado.
Audiência de custódia e desfecho jurídico
Após o período de detenção, G. T. M. foi encaminhado para a Unidade Prisional de São Domingos do Norte. Na audiência de custódia, foi liberado.
Contrariando a expectativa inicial de enquadramento pela Lei Maria da Penha, o desfecho judicial resultou em uma medida restritiva contra a ex-companheira, que deverá manter distância mínima de 200 metros dele.
Medo e trauma
Hoje, G. T. M. afirma viver em estado de trauma psicológico. Diz ter perdido a confiança no Estado que deveria protegê-lo e teme represálias caso sua identidade seja revelada.
— “Eu tenho medo. Não é só do que fizeram comigo, é do que ainda podem fazer.”
Por essa razão, ele optou por não aparecer com nome ou imagem nesta reportagem.
O caso levanta questionamentos sérios sobre abordagem policial, uso da força, respeito aos direitos humanos e ao devido processo legal, reforçando a necessidade de investigação rigorosa por parte dos órgãos competentes.
A reportagem deixa aberto o espaço para manifestação das autoridades envolvidas.
