Quando surge uma dúvida muito grande na vida, nós temos algumas alternativas, podemos conviver com ela ou buscar soluções e respostas para o conhecimento e enfrentamento da situação.
O termo AUTISMO me foi apresentado em um contexto carregado de dúvidas, onde as respostas eram conclusivas e nem compreendia toda a complexidade da situação, as primeira informações que eu consegui eram bem negativas, mas retratavam algumas características que, mesmo sem querer, observava em minha filha.
Ela era uma menina de comportamento bem atípico. Uma de suas condições, que eram bem observadas pelos amigos e parentes, era a necessidade de exploração do ambiente.
Havia um ritual a ser realizado, dependendo de cada local. Quando íamos visitar minha avó no Rio Preto, ela tinha que retirar todos os ímãs de geladeira e enfileirar no chão do menos para o maior e depois de algumas horas retornar com todos para a porta da geladeira sem esquecer nenhum. Se por algum motivo a rotina fosse quebrada havia muitas “crises”. Na ocasião, pelo conhecimento que nós tínhamos do tema, não conseguimos entender seu comportamento, e pelo que me lembro, isso causava muito sofrimento para ela. Maria Paula tinha uma fixação por desenhos e ficava na frente da televisão o dia todo, mas quando chegava a noite ninguém na casa poderia ligar a televisão no canal do SBT, ela não podia ouvir de maneira alguma qualquer som de comerciais ou da programação, mesmo se estivesse dormindo, acordava e dava crises de ansiedade com sudorese e ânsia de vômito.
Após diversas situações sem explicações fomos descobrindo o que a causava desconforto e evitando situações conflitantes, dentro do possível. Na busca por resposta realizamos uma terapia naturalista, onde nossa relação com ela foi modificada completamente, modificamos também a relação dela com seu entorno, fazendo com que ela pudesse explorar e experimentar objetos, cheiros, sabores e outros. Quando havia uma rejeição ao ambiente ou a algum objeto era necessário uma exploração criteriosa e cuidadosa para que a experiência pudesse ser prazerosa e ser repetida mais vezes.
Nas muitas experiências que nós tivemos algumas se destacam, como as tardes que nós passamos juntas caminhando pelos arredores de casa colhendo dentes de leões, para que ela pudesse perder o medo do verde, como ela não aceitava tocar em nada verde, nenhum mato ou qualquer outra coisa, nas primeiras vezes foi somente para soprar, depois passou a segurar o talo sem as folhas, até que depois de algum ela conseguiu colher o dente de leão da planta e soprando. Fomos orientados a plantar flores no quintal de casa para que ela pudesse ter mais contato com as plantas.
Foi bem interessante ter notado que as minhas lembranças eram compartilhadas por Maria Paula, foi possível perceber isso quando ela fez um desenho, no desenho que acompanha o artigo vocês podem conferir um desenho feito por ela que retrata como eram nossas caminhadas, em sua lembrança ela retrata nós três, ela, seu pai e eu, mas na verdade as caminhadas eram mais com a irmã mais velha, entendo que o fato da lembrança mais forte trazer o pai é devido a alteração da rotina quando ele estava presente. Cada momento que passamos juntos nas terapias, viagens, consultas, salas de espera, que foram muitas, foram momentos para aprendizagem e conhecimento mútuo. Entender o comportamento dela exigiu de nós uma habilidade importante para nós, algo que serviu de base para estabelecermos um diálogo bem franco e com respeito e cuidado com as palavras. Para Maria Paula cada palavra, cada expressão tem um peso muito grande e é incrível como as suas lembranças foram registradas em desenhos, muitos desenhos, que me deixam encantada.
