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Por que o velho fogão a lenha está de volta? Por Edilson Xavier

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Quem tem mais de quarenta anos é provável que comeu uma comida preparada no fogão a lenha. Seja na casa da avó, da tia ou até mesmo da mãe. As lembranças dos sabores da boa comida da época de criança, ficam guardadas na memória de forma afetiva. Seja o cheiro do feijão cozido num caldeirão, sem pressão, a carne de porco exalando o aroma temperado pelas mãos da cozinheira, ou aquele frango caipira, frito na gordura de porco. São boas lembranças que ficarão registradas para sempre com sabor de infância.

 

Este tempo que parecia ter ficado para trás, ressurgiu nos tempos modernos, não mais como aquela lembrança boa guardada no nosso memorial, mas como uma realidade cruel que chama a atenção para o empobrecimento da população brasileira. As famílias estão sendo obrigadas a voltar a usar o antigo fogão a lenha, aposentado desde o final da década de 1980.

 

Você pode até pensar que é por causa da pandemia, no entanto, esta realidade já vinha acontecendo desde 2016 com a troca sistemática de governos. A pandemia apenas agravou aquilo que já estava evidente nas classes menos favorecidas e não é só no interior, mas principalmente nas periferias das grandes cidades.

 

A razão é muito simples: empobrecimento do brasileiro, principalmente o de baixa renda, e aumento exagerado do gás de cozinha. O monopólio do gás de cozinha está nas mãos da PETROBRAS. Os especialistas afirmam que é o mercado internacional responsável por elevar os preços, porém, vale lembras que o gás de cozinha é produzido aqui, no Brasil. Então, por que o brasileiro tem que pagar pelo mercado internacional? Esta é uma questão muito complexa e o consumidor não quer saber do mercado internacional, ele gostaria de pagar por um preço justo de modo que o gás de cozinha caiba no seu orçamento.

 

A situação dos habitantes das periferias das grandes cidades é muito mais grave, pois, no interior se consegue a lenha natural. Já o usuário da periferia, geralmente pega essa madeira nos entulhos das construções, portanto, leva para casa uma lenha que foi tratada com agentes químicos, liberados através da fumaça.

 

Outo fator que merece atenção é que a maioria dos fogões nas comunidades são improvisados, feitos sem a chaminé que, teoricamente, eliminaria grande parte da fumaça levando-a para o lado externo da casa. A realidade dos barracos de periferia é outra, são espaços minúsculos colados, um, ao lado do outro, e não possuem a chaminé, portanto, tanto os moradores, quanto os vizinhos compartilham do mesmo ar contaminado por fumaças tóxicas.

 

Segundo especialistas, essa fumaça fará novas vítimas num curto espaço de tempo. “Muitas pessoas nos países desenvolvidos não se dão conta de que a fumaça do fogo empregado para cozinhar em espaços interiores é um terrível flagelo para a saúde de um grande número de pessoas”, disse um dos pesquisadores, Francis Collins, diretor dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos Estados Unidos. Dentre os males causados pela fumaça tóxica, estão: enfisema pulmonar, problemas cardíacos, doenças crônicas de obstrução pulmonar, dentre outras.

 

Para amenizar essa triste realidade, assim que a pandemia for controlada, é preciso investir em políticas públicas com geração de renda, baratear o gás de cozinha, quebrando o monopólio da PETROBRAS e incentivar as crianças a frequentar a escola, em vez de sair pelas ruas recolhendo lenha. As lembranças de agora não ficarão registadas de modo afetivo como aquelas da boa comida feita no fogão a lenha pelas avós, tias e mães, pois, na comida de hoje há o sabor do tempero amargo de tempos de penúria.

 

Fonte: http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia

 

Edilson Xavier é escritor, formado em Letras pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).

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