As unidades de pronto atendimento públicos e privados têm ficado cheios nas últimas semanas devido ao aumento dos casos de síndrome gripal.
Duas pessoas morreram no Espírito Santo por Síndrome Respiratória Aguda Grave por Influenza, a conhecida gripe. Os casos foram confirmados pela Secretaria Estadual de Saúde na tarde da última terça-feira (21).
Desde a última semana, os prontos atendimentos (PAs) da Grande Vitória têm registrado um aumento na procura de pacientes com sintomas gripais. O Espírito Santo e outros estados do Brasil já registram uma epidemia provocada pela circulação do vírus influenza.
A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) disse que, até o momento, das 15 mil mostras de casos suspeitos de síndrome gripal, foram registrados 74 casos de influenza tipo A. No entanto, a presença da cepa ainda não foi confirmada.
A Sesa ainda aguarda “resultados de sequenciamentos genéticos que foram encaminhados para a Fiocruz” para confirmar se há presença da nova cepa, chamada de Darwin, em território capixaba. A cepa é uma linhagem do H3N2.
Quais são os tipos do vírus influenza?
A virologista e professora da Universidade Federal do Espírito Santo, Liliana Cruz Spano, explica que o vírus influenza em humanos possui três tipos: A, B e C. O tipo C, geralmente, está associado com casos leves ou assintomáticos, e, por isso, este tipo não é contemplado nas vacinas.
Já os tipos A e B podem causar epidemias. O tipo B, segundo a especialista, não tem alterações antigênicas. Este tipo é contemplando nas vacinas.
O tipo A, por sua vez, é o mais comum em circulação. Ele se divide em subtipos formados por hemaglutinina (H) e neuraminidase (N). Segundo Liliana, existem 16 tipos de hemaglutinina e nove de neuraminidase.
A especialista destaca, no entanto, que apenas duas combinações circulam entre humanos: os subtipos H1N1 e H3N2. Além do tipo B, esses dois subtipos do vírus fazem parte das vacinas.
A virologista explica, ainda, que dentro dos subtipos existem variações, que são geradas a partir da reprodução do vírus.
“O vírus muda muito. Quando ele faz a cópia dele, ele acaba inserindo algo ‘errado’. O que gera um novo modelo do vírus. Essas alterações que acontecem no vírus são detectadas. As que são significativas, que podem circular muito no ano seguinte, vão para a vacina”, disse.
O que é considerado gripe?
A infectologista Simone Freitas lembra que, nem todos os casos de coriza e dificuldade para respirar são considerados de gripe. Para que haja essa classificação, é necessário que sejam feitos exames. Este procedimento, segundo a especialista, só é realizado em casos de sintomas graves.
“Nem todos os casos de síndrome gripal passam por testes para identificar a cepa. A gente só colhe o exame quando o quadro é grave, quando há dificuldade de respiração. Se o caso não precisar de cuidados médicos, é considerado síndrome gripal ou resfriado”, explicou.
Por que os casos de gripe preocupam os médicos?
A principal preocupação dos médicos quando se trata de síndromes respiratórias está relacionada com a lotação dos hospitais e unidades de saúde. No contexto de pandemia da covid-19, os casos de gripes tornaram-se um preocupação ainda maior.
Simone lembra que os casos de influenza costumam ser mais frequentes no inverno. “O que chama a atenção nestes casos que estamos vendo é que não é época de gripe. A pandemia de covid-19 mexeu com a epidemiologia das doenças. Estamos no primeiro dia do verão e com casos de gripe, que costumam ser mais frequentes no inverno”, disse.
A proximidade com as festividades de final de ano, como a ceia de Natal, também é motivo de preocupação para os especialistas, já que os casos da doença podem aumentar.
Devo tomar a vacina contra a gripe?
Para Simone, sim. Todos devem se vacinar contra a influenza, em especial quem faz parte do grupo de risco. A infectologista lembra que, mesmo que a nova cepa não seja contemplada na vacina aplicada, a dose ajuda a evitar casos graves por outras cepas e, assim, diminuem a demanda dos prontos atendimentos.
“Mesmo que essa cepa em circulação não esteja presente na vacina, é importante vacinar. Do mesmo jeito que essa cepa está circulando, outras podem estar. A meta de vacinação dos idosos neste ano, que é de 90%, não foi alcançada. É muito importante que as pessoas se vacinem”, afirmou.
Por que tenho que tomar a vacina da gripe todo ano?
De acordo com as especialistas, dois fatores fazem com que a população tenha que se vacinar contra o vírus da influenza todo ano.
Liliana explica que o vírus muda a sua estrutura com frequência, o que acaba gerando diversas variações. Por isso, anualmente a estrutura das vacinas precisam ser alteradas.
“Como o vírus muda com frequência, todo ano a vacina é revista. Pode ser que seja o mesmo vírus, mas sempre há alguma alteração”, explicou.
Além disso, o tempo de efeito da vacina no organismo, segundo a virologista, cai com o passar dos meses. Por isso, é importante reforçar a imunização anualmente.
“A vacina não dura muito tempo. Por isso, temos que vacinar todo ano. Às vezes, as cepas são as mesmas, mas a produção de anticorpos induzida pela vacina cai. É por isso que a gente toma todo ano”, destacou.
Já tomei a vacina da gripe este ano, devo tomar novamente?
Liliana lembra que, neste ano, a campanha de imunização contra a Influenza foi antecipada. Para a virologista, caso a pessoa faça parte do grupo de risco e tenha tomado a vacina há mais de seis meses, seria interessante se vacinar novamente.
“Como estamos tendo um surto de gripe, o interessante seria vacinar novamente os grupos de risco, principalmente porque neste ano a campanha foi antecipada”, destacou.