InícioCOLUNISTASEDILSON XAVIERPor Edilson Xavier: Para um negro, viver no Brasil é perigoso

Por Edilson Xavier: Para um negro, viver no Brasil é perigoso

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Quando começamos a classificar pessoas pela cor já é um forte indício de que alguma coisa não está indo bem, no entanto, faremos isso para melhor expor o conteúdo desta matéria, já que trabalharemos com os grupos classificados por cores. Mencionaremos o Brasil como exemplo, ainda que em muitos países a situação é bastante parecida.

Viver no Brasil enquanto cidadão negro é mais perigoso que se fosse branco. Essa afirmação é embasada em estatísticas fornecidas pelo Atlas da Violência 2021 que é um portal que reúne informações do Ipea sobre violência e segurança pública.

Segundo o portal, para cada 100 mil habitantes, morrem 11,2 não negros (branco, amarelo e índio) enquanto que o número sobe para 29,2 quando se refere ao negro (preto e pardo). Por quê? Vários são os motivos: a cultura do Brasil-colônia, onde o negro ainda é visto como escravo, desigualdade social, preconceito racial e flexibilidade no porte de armas pelo atual governo.

Nos últimos tempos, muitas vozes têm se unido para denunciar essas injustiças, como o movimento: “Vidas negras importam”, entretanto, os fatores culturais parecem persistirem no erro. Dois casos recentes nos chamaram nossa atenção nos últimos dias: os assassinatos do congolês Moïse Kabagambe e Durval Teófilo Filho, ambos no RJ.

Moïse era refugiado da República do Congo e veio para o Brasil fugindo da violência do seu país, mas acabou encontrando-a, mesmo fugindo dela. No dia 24 de janeiro, Moïse foi ao Quiosque Tropicália, Tijuca, área nobre do Rio de Janeiro, supostamente cobrar duas diárias pelos trabalhos prestados. Três homens o espancaram até à morte enquanto ele pedia para não ser morto.

Pessoas que tentaram intervir, ouviram, dos algozes, que estavam dando um corretivo nele porque ele estava roubando. Através das investigações se pode constatar que esta afirmação era mentirosa, pois, o congolês era trabalhador. Este caso foi de repercussão internacional e ganharam as manchetes dos melhores jornais e sites.

Já Durval foi morto no último dia 2, chegando ao condomínio onde morava às 23h, depois de um dia exaustivo de trabalho. Quem o matou foi um vizinho, homem branco, oficial da Marinha do Brasil que disse ter confundido Durval com um assaltante.

Com relação ao caso Moïse, devido à repercussão, a Prefeitura do Rio de Janeiro anunciou que fará um monumento em homenagem ao congolês no quiosque em que ele foi morto. Já Durval, este será esquecido em pouco tempo, assim como foram esquecidos, João, José, Leide Laura e também tantas Marias, todos negros.

Sabe por que serão esquecidos? É porque suas mortes não chamaram a atenção e muitas foram fraldadas para mascarar a real circunstância em que aconteceram. Então acabamos de descobrir o ponto fraco do sistema: ele tem medo da opinião pública.

Então, que façamos mais barulho, que denunciemos mais, o que não podemos é ser omissos e aceitar que os nossos amigos, irmãos, filhos sejam mortos numa estatística que nunca é favorável a uma raça que tanto fez, e faz, pelo nosso Brasil.

Edilson Xavier é escritor, formado em Línguas e Letras pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).

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