Segundo a operação Acolhida, que controla o fluxo migratório, o movimento foi considerado “atípico” se comparado a média diária de 450.
O ingresso dos venezuelanos ocorre mesmo com a fronteira fechada por Nicolas Maduro desde 21 fevereiro. Desde então os venezuelanos que chegam ao Brasil atravessam por rotas clandestinas no entorno da rodovia BR-174, onde há um bloqueio de militares venezuelanos.
A travessia ao Brasil é em muitos casos feita a pé, uma caminhada que pode levar horas. Na terça, o Exercito fechou a passagem de carros por uma das principais rotas, mas ainda é possível cruzar em veículos por um outro caminho.
‘Não vamos parar de sair’
Junto a um grupo de nove pessoas, entre elas três crianças e uma bebê, a venezuelana Beatriz Bello, de 54 anos, encarou, com a filha e três netos, dois dias de viagem nos mais de 1,2 mil km entre Caracas e Pacaraima.
No começo do trajeto, eles viajaram de ônibus, mas o dinheiro acabou pelo meio do caminho eles chegaram ao Brasil pedindo carona.
“Nós adultos passamos a viagem a pão e água. As crianças ainda comeram leite e biscoito”, disse.
“Aqui está melhor. Caminhei um pouco pelas ruas e vi que aqui tem comida” contou a filha de Beatriz com a bebê mais nova no colo, uma menina de 2 anos.
Elas chegaram a Pacaraima na tarde dessa segunda (30), dia em que começaram as manifestações na Venezuela. Agora, tentam chegar a Boa Vista, onde tem parentes que também fugiram da crise no país natal.
Com destino a Argentina, a dentista Yaritza Janez, 62 anos, também entrou no Brasil por rota clandestina. Ela fez o trajeto de Santa Elena a Pacaraima em um carro depois de pagar propina aos militares da Guarda Nacional Bolivariana.
“Só liberaram quando o motorista pagou R$ 100 aos militares venezuelanos”, disse.
Yaritza falou que temia não conseguir sair da Venezuela em razão da tensão que se instalou no país nessa segunda. Na Argentina, ela vai encontrar com um filho.
“Mas mesmo que dificultem a saída não vamos parar de sair. A maioria das pessoas não tem o que comer. É realmente isto que está acontecendo”.
Esse aumento de venezuelanos entrando no país é percebido por taxistas locais que trabalham diariamente no trajeto Pacaraima – Boa Vista.
Integrante de uma cooperativa, o taxista Cícero Pereira disse que desde sábado (27) aumentou o movimento de imigrantes que querem chegar a capital.
“Aumentou bastante o movimento. Fazia duas viagens por dia no táxi, agora tenho feito quatro”, afirmou o taxista
Ele disse que ainda que nessas viagens tem presenciado muitos que fazem a pé o caminho de 215 quilômetros pela BR-174.
A Venezuela teve nesta terça um dia marcado por confrontos após o presidente autoproclamado, Juan Guaidó, anunciar apoio de militares e convocar manifestação contra o regime chavista. Mais de 70 pessoas ficaram feridas nos atos. Neste terça (1º) a posição convocou novamente as pessoas para irem às ruas.
A tensão, no entanto, não chegou à fronteira do Brasil e a movimentação, apesar de intensa, é tranquila em Pacaraima.
Em reação à oposição, Maduro afirmou ter tem lealdade de militares e também convocou às ruas a população que o apoia. “Venceremos”, escreveu o chavista em rede social.
Fonte.. g1